MARIA DE LURDES AMARAL
MESTRE EM COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO EM CIÊNCIA E PROFESSORA DO AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE TRANCOSO
CONHECER PARA CUIDAR
A educação é hoje mais importante do que nunca. Deve ser encarada como um instrumento poderoso na construção da sociedade que pretendemos para o futuro.
A escola existe para transmitir conhecimentos, desenvolver competências e valores, ou seja, capacita para viver. Tem o dever de incutir no cidadão a capacidade de pensar de forma crítica (se assim não for não há pensamento!) o mundo e a realidade actual.
Ao longo do tempo, a escola teve necessidade de adoptar novos métodos de ensino e novos conteúdos, adaptando-se à realidade social. Um destes novos conteúdos, de abordagem transdisciplinar, é precisamente a educação ambiental. Esta deve ir para além das ideias desgastadas da separação de resíduos domésticos e das actividades de florestação simbólica em determinadas datas, que podem fazer com que os jovens percam o interesse pela temática.
É necessário sensibilizar os jovens para os perigos decorrentes do nosso estilo de vida e do seu impacte no ambiente, incentivando-os a adoptarem uma atitude espontaneamente protectora. Esta sensibilização deve iniciar-se o mais cedo possível com a intenção da formação de uma cidadania ambientalmente responsável.
Especialistas da área consideram que se deve colocar o enfoque na educação das crianças, especialmente até aos oito anos de idade, período em que se regista um grande desenvolvimento psicológico. É a altura ideal para serem incutidos valores morais, que serão, por sua vez, amadurecidos na idade adulta, perdurando ao longo da vida. Nos adolescentes e adultos, a alteração de valores e sobretudo de atitudes é mais difícil. Para além da rotina, a comodidade de algumas práticas e a necessidade de concretização imediata pesa muito na altura de tomar decisões.
No trabalho diário com adolescentes tenho verificado que é mais fácil a adesão destes quando são trabalhados temas significativos que estão relacionados com o quotidiano e que, por sua vez, despertam o lado emocional, como por exemplo: conflitos motivados pela exploração de recursos naturais; problemas de saúde decorrentes da produção intensiva de alimentos; o perigo de extinção do ser humano na sequência da diminuição da biodiversidade, em particular dos insectos ou seres na base das cadeias alimentares; o aparecimento ou disseminação de doenças como o dengue, a febre-amarela e mais recentemente o Zika, graças à migração de mosquitos para zonas onde não são endémicos em consequência das alterações climáticas.
É fundamental apostar no conhecimento dos mecanismos que regulam o equilíbrio do planeta e do papel da acção humana na sua preservação.
Mas, se por um lado, deve ser dada ênfase aos comportamentos inadequados, deve sobretudo passar-se uma mensagem positiva e de esperança relativa a uma mudança global resultante do somatório de pequenos gestos individuais.
Numa altura em que geralmente se questiona que planeta deixaremos aos nossos filhos, parece-me legítima a pergunta: Estarão eles preparados para cuidar do planeta?