RUI FILIPE DE SOUSA RIBEIRO
PROFESSOR DE HISTÓRIA E SUB-DIRECTOR DO AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE TRANCOSO
BIODIVERSIDADE E PRESERVAÇÃO
A biodiversidade é, para o senso comum, uma questão apenas substantiva cuja definição se refere à diversidade de organismos vivos. Deste pressuposto, a argumentação da preservação parte de operadores lógico-matemáticos de mais e menos diversidade e de deduções de muita ou pouca biodiversidade.
A realidade é contudo mais complexa quando vista do ponto de vista conceptual. O conceito, que aparece enunciado pela primeira vez em 1980 por naturalistas preocupados com a rápida destruição do meio natural e das espécies, ganha corpo em 1992 na Conferência do Rio. Para além da diversidade de organismos vivos adquiriam particular importância as relações complexas que estes estabeleciam entre si e entre eles e o ambiente ou entorno. O discurso da biodiversidade passou então a contar com expressões associadas de ecossistema e património natural, sobretudo para se referir às ameaças à biodiversidade. Entre elas, o aumento demográfico e a pressão na exploração de recursos, a poluição, a introdução de espécies exóticas, as alterações climáticas e até à manipulação de ADN na produção de organismo geneticamente modificados (GM). Neste último caso, desenvolve-se atualmente uma ampla e calorosa discussão definida como bioética.
Importa por isso, sobretudo preservar ou, porque essa perspetiva exige uma abordagem sistémica, pelo menos conservar a biodiversidade. As soluções assentam em quatro princípios, que expurgam alguns mitos, ou más práticas:
Primeiro, só se pode preservar o que se conhece. Investir num maior conhecimento sobre as espécies existentes numa determinada zona e a interação entre elas é fundamental para se saber o que conservar e como conservar.
Segundo, só se preserva o que se protege. A criação de reservas, zonas protegidas e parques naturais, devem ser concebidos como sistemas abertos. É errado concebe-los de outra forma, fechados, porque se comprometem os interfaces de interação das espécies.
Terceiro, só se preserva o que se controla. Regular a relação entre a atividade humana e os organismos vivos, tanto dentro como fora das áreas protegidas é fundamental. Resistir à tentação fácil de proibir e implementar práticas ambientais sustentadas no âmbito das atividades económicas, reforça a proteção.
Quarto, a preservação é um comportamento humano. Não criar zonas protegidas de onde se exclui o homem. O homem não é o inimigo, é necessário vigiar e reeducar comportamentos humanos, mas não é possível excluir um dos elementos do conjunto biótico que representa o topo da cadeia trófica e é parte integrante do ecossistema.
É urgente implementar estes princípios e definir estratégias diferentes das atualmente seguidas. Porquê? Porque as espécies estão a extinguir-se cem vezes mais rapidamente do que era expectável no início deste século. Só em Portugal 19% dos anfíbios, 26% dos mamíferos, 69% dos peixes em particular dos dulciaquícolas, 32% dos répteis e 38% das aves encontram-se atualmente ameaçados de extinção.